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04/10/2022

Lyana Breda e Adriana Garibe

Muitas vezes, diante das – tecnologias recém-lançadas, somos irracionais e influenciados pelos vieses inconscientes ou cognitivos. Em média, uma pessoa toma cerca de 35 (trinta e cinco) mil decisões por dia, sendo que, atualmente, inúmeras dessas decisões são confirmadas em alguma plataforma digital. Por essa razão, faz-se necessário que os usuários  atentem-se à consciência digital e como podem ser influenciados por “empurrãozinhos algorítmicos” a escolherem o que não querem ou não precisam.

Listamos alguns dos principais mecanismos de busca estruturados por meio de inteligência artificial algorítmica:

Default, as decisões que são tomadas – por terceiros- em seu nome

Existe um termo técnico muito usado em tecnologia para se referir a um valor pré-definido ou padrão, capaz de influenciar comportamentos, chamado de defaut. Este termo refere-se a decisões que são tomadas por terceiros em nome de um indivíduo. Em outras palavras, o sistema decide automaticamente sem que o usuário seja consultado.

O defaut é um dos mais de 150 vieses inconscientes conhecidos e catalogados pela economia comportamental. Vieses inconscientes ou cognitivos, por sua vez, são erros sistemáticos ou sistêmicos? na nossa forma de pensar e tomar decisões, ou seja, são pré-julgamentos que influenciam o processamento de informações pelo cérebro. Funcionam como atalhos mentais que tornam o pensamento mais fácil e rápido, mas podem ser perigosos quando associados a decisões de dia a dia que costumam ser consideradas como irracionais e inconscientes.

Sabe aqueles e-mails promocionais e de propaganda que você recebe diariamente? São um clássico exemplo de uso de defaut. Em algum momento, a partir de um comportamento seu, como seguir um perfil no Instagram, geram automatizações  e disparos de promoções ou propagandas sobre um tema relacionado àquele perfil ou a simples ação de “seguir” na rede social, entendida pelo algoritmo como uma preferência . E se você não quiser mais recebê-los precisa optar por sair da lista de contatos daquela determinada empresa. Ou seja, instantaneamente você passa a ser bombardeado com tais e-mails, ainda que não tenha conscientemente tomado essa decisão. Os checkboxs – aquelas caixinhas que normalmente já são previamente preenchidas pelo próprio sistema sem nos consultar, como “quero receber ofertas” – , são exemplos de defauts.

Nudges, o famoso empurrãozinho

Os nudges são intervenções usadas para influenciar a tomada de uma decisão pelo indivíduo. Por exemplo, se no mundo real, você quer que seu filho passe a comer mais frutas, você pode usar os seguintes nudges: proibir o consumo de doces industrializados ou começar a oferecer mais frutas e deixar frutas picadas ao alcance. As duas condutas funcionam como intervenções para influenciar a escolha de caminhos. No mundo digital somos bombardeados com nudges e defauts que nos inclinam em determinadas direções.

Quando você procura um produto ou serviço em sites de buscas aparecem milhares de resultados e, normalmente, os cliques são direcionados às primeiras posições no ranking de seleção feita pela engenharia de busca.  Mas foi você quem realmente escolheu aquele produto ou serviço? Ou o Google escolheu por você? Interessante lembrar, inclusive, que os primeiros resultados costumam ser ocupados por links patrocinados/anúncios, o que conforma a relação de negócios estabelecida também pela engenharia de busca. Esses sites de pessoas físicas ou empresas pagaram mídia programática para ocupar os primeiros lugares destas listas Oportuno ressaltar que em cada plataforma de acesso, o ranking de opções pode mudar e estar associado ao perfil de busca individual capturado pelo algoritmo.

No mesmo sentido, podemos questionar: será que é você quem decide o que vai ver na sua timeline e/ou feed ou será que o Facebook, Instagram ou LinkedIn e todos os outros ambiências digitais influenciam você a consumir o conteúdo que eles consideram mais relevante e querem que seja consumido por você?

Realidades Aumentada e Virtual: apostas para mecanismos algorítmicos mais sociais

 Precisamos levar em consideração, ainda, que existem dois tipos de influência: persuasão e coação. No primeiro tipo, o indivíduo é influenciado a fazer o que quer e precisa, enquanto no segundo tipo é influenciado a fazer o que não quer e não precisa. Evidente, portanto, que o primeiro tipo pode ser benéfico, diferente do segundo que é quase uma manipulação. Tecnologias de realidade virtual e aumentada, portanto, podem ser usadas nesta lógica de influência de consumo e convencimento.

A assinatura forçada, por exemplo, é um tipo de “empurrãozinho” prejudicial na maioria dos casos, em que os indivíduos ficam presos a produtos e serviços não porque de fato precisam ou querem, mas porque têm um prazo de vinculação a cumprir para não serem penalizados. Existem, em contrapartida, vieses positivos. Muitos equipamentos digitais são utilizados para otimizar o tempo dos indivíduos, trazer praticidade às atividades cotidianas, monitorar doenças etc., possibilitando, assim, que os indivíduos foquem sua atenção em outras coisas mais produtivas, úteis ou prazerosas do que em suas deficiências e dificuldades que podem ser corrigidas com ajuda da tecnologia.

Para alcançarmos um equilibro no cenário tecnológico é preciso estimular o pensamento crítico, ter empatia nos meios eletrônicos e gerenciar tempo e tarefas nas redes socais, bem como dar preferência ao consumo de tecnologias e aplicações de sistemas locais, que estão fora da lógica de mercado do algoritmo já estruturado pelas Big Tech. Seguindo estes passos podemos atuar de modo a fazer a tecnologia trabalhar a nosso favor e não o contrário. A consciência digital é o segredo para driblar a manipulação inconsciente propiciada pelos algoritmos. Além disso, é importante evitar fazer um milhão de coisas ao mesmo tempo, especialmente na internet, porque com a atenção focada em uma única atividade, maiores são as chances de você conseguir tomar decisões conscientes.